Vamos falar sobre Cultura?

Ihhh, lá vem mais um artista querendo falar sobre a “diversidade”, sobre o “folclore brasileiro” e sobre essas coisas antigas sobre as quais ninguém mais quer falar.
Não exatamente. A pergunta acima serve para tirar a discussão do curto prazo, pensando não somente nas contra-partidas imediatas que o investimento nas Leis de Incentivo proporciona, mas levando a discussão para o longo prazo, aumentando a consciência quanto ao plano cultural que estamos fomentando dentro do nosso país.
Se tomarmos como exemplo o renascimento dos espetáculos musicais de grande porte na cena brasileira (concentrada no eixo São Paulo-Rio, mas transbordando para outras capitais) à partir dos anos 90, poderemos perceber que o fomento a esse tipo de espetáculo criou um mercado próprio: escolas de formação específica para essa linguagem, artistas preparados e capacitados para cantar, dançar e atuar em consonância com a estética musical, profissionais técnicos treinados, casas de espetáculo preparadas para receber grandes produções, produtores comandando produções de grande porte, todo um novo mercado para uma diversidade de artistas que oferecem um produto de qualidade para o público.
Ao mesmo tempo em que parte das produções são montagens de sucessos comerciais estrangeiros, especialmente da Broadway, as Leis de Incentivo proporcionam espaço para espetáculos originais, com raízes na própria música popular brasileira: espetáculos baseados nas composições e/ou biografias de Tim Maia, Elis Regina, Cássia Eller, Bibi Ferreira, Hebe Camargo, Ayrton Senna, Orlando Silva, Mamonas Assassinas e Rita Lee são apenas alguns dos exemplos que temos de produções originais brasileiras.
Essa explosão cultural que se desenvolveu à partir da iniciativa dos produtores e da confiança dos patrocinadores mudou a cena teatral nesses dois centros (São Paulo e Rio) e tem potencial para alcançar outras cidades ao redor do país.
Da mesma forma, o investimento em projetos de capacitação para jovens de periferias, como foi o caso do Projeto Entrenós, realizado na região do Pico do Jaraguá em São Paulo, proporciona aos participantes o contato com formas de arte às quais dificilmente teriam acesso sem a iniciativa de produtores e o compromisso dos patrocinadores. O retorno midiático ou o alcance junto a determinado público alvo pode ser menor em comparação com um espetáculo musical de grande porte, porém as possibilidades que um projeto deste tipo oferece aos seus participantes tem um grande impacto na comunidade em que acontece e reverbera para além do próprio período de realização: a relação dos jovens participantes com os aparelhos culturais da própria comunidade ganhou enormemente, constatado no grau de frequência à biblioteca local e junto ao compromisso e senso de pertencimento dentro da vizinhança.
Esses dois exemplos contrastantes, escolhidos de propósito, tem o sentido de ajudar na reflexão: quais projetos culturais podemos fomentar? Que tal conhecer uma diversidade de projetos para, dessa forma, poder avaliar qual impacto podemos fazer na cultura brasileira nesse ano?

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